domingo, 15 de agosto de 2010

André Villas-Boas vs Jesualdo Ferreira: Eis as diferenças...




Ainda que seja algo precoce entrar no ramo das comparações, a verdade é que para os adeptos de futebol mais atentos as diferenças entre os dois treinadores na abordagem ao jogo saltam à vista.


Para começar e sem querer minorar o êxito que Jesualdo Ferreira teve ao "leme" do F.C Porto nas últimas quatro temporadas, a verdade é que as suas equipas estiveram sempre sujeitas a um único sistema táctico, que apenas foi alterado em definitivo assim que a escassez de soluções no plantel (fruto das lesões e dos castigos nas alas) o obrigaram. Jesualdo Ferreira tinha como sistema táctico predilecto o 4-3-3. O mesmo sucede com André Villas-Boas, mas ontem o jovem técnico do F.C Porto fez aquilo que eu e outros tantos críticos analistas ao F.C Porto vinhamos criticando em Jesualdo Ferreira por não fazer.


Quem se lembra do F.C Porto "à Jesualdo", lembra-se de uma equipa extremamente "cínica" e direi quase "mortífera" nas transições ofensivas. Porém, quando a equipa adversária utilizava a famigerada táctica "do autocarro" (caracterizada pela utilização de um bloco baixo), Jesualdo assumia sempre a mesma postura no banco de suplentes. Desta feita e se o jogo estivesse "emperrado" num 0-0 (a título de exemplo), o ex-técnico do F.C Porto retirava unidades do meio-campo e acrescentava soluções à frente de ataque. Era uma solução reprovável (no meu ponto-de-vista), uma vez que apelava ao "desespero" e ao "chuveirinho", retirando muito do virtuosismo característico dos jogadores mais avançados do F.C Porto.


Normalmente, uma equipa "grande" que joga perante um adversário de menor dimensão e cuja estratégia passa por encurtar as "linhas", é necessário criar acima de tudo mais volume de jogo. As dificuldades que se fazem sentir em jogos como estes (e viu-se isso na primeira-parte do F.C Porto diante da Naval), passa por criar mais volume de jogo e oportunidades de golo para os avançados finalizarem.


Ora, quando se opta por uma estratégia que passa por retirar gente ao meio-campo em detrimento de avançados, a "batalha" no "miolo" do terreno fica automaticamente perdida. A equipa passa assim a depender de lapsos de individuais dos seus "craques" e da já por mim referida tentativa de "chuveirinho" (que poucas ou nenhumas vezes dá/deu grandes resultados).


Pois bem, é no seguimento destas opções tomadas que "tiro o chapéu" ao "mestre" André que foi extremamente perspicaz na forma como abordou a segunda-parte do jogo de ontem. Porventura até podia nem ter dado resultado (podia o F.C Porto até ter empatado, fruto de algum azar e ineficácia), mas a verdade é que a estratégia foi bem delineada e o "sufoco" a que a Naval foi submetida acabou por surtir efeito. André Villas-Boas colocou e muito bem Guarín no meio-campo Portista. Possivelmente se o treinador fosse Jesualdo Ferreira e se Farías ainda estivesse no F.C Porto, seria "El Tecla" a entrar e muito possivelmente um dos médios a sair (deixando a equipa a actuar num previsível 4-2-4). Pois bem, com a entrada de Guarín em campo, o meio-campo do F.C Porto tomou conta do jogo, criou mais volume de oportunidades e foi acima de tudo mais agressivo. Teóricamente o F.C Porto ao retirar Varela para colocar Guarín em campo até estaria a retirar um extremo para colocar um médio-centro (o que poderia transparecer a hipotética intenção de conservar o 0-0, ainda que descabida). Assim não foi e o F.C Porto mostrou-se mais capaz de fazer frente a uma equipa bem montada, com uma estratégia defensiva difícil de ser ultrapassada (sim porque a Naval do ponto-de-vista ofensivo praticamente foi inexistente).


Em sentido inverso foi curioso ver algum "Jesualdismo" na equipa do Sporting, quando na partida de ontem terminou o jogo com cinco avançados e praticamente dois médios. O resultado foi oposto ao que o F.C Porto obteve no dificil campo da Naval 1º de Maio, o que atesta ainda que indirectamente que a sabedoria e leitura de jogo de André Villas-Boas não podem nem devem ser "beliscadas" com o facto deste ainda ser um treinador jovem.


É óbvio que ainda há um longo caminho a percorrer mas para já é com bastante optimismo que encaro a mudança de treinador. A equipa dá mostras de já ser capaz de variar de sistema, sem receios, durante um mesmo jogo e foi pela boca de André Villas-Boas que os adeptos ficaram a saber que se o golo não tivesse surgido aos 84 minutos, Ukra preparava-se para entrar e alterar o até então 4-4-2 para 3-4-3. Acabou por entrar Souza para solidificar o meio-campo e segurar três pontos preciosos na caminhada pelo título.

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